Por Gerson Nogueira
Nenhum outro torcedor no Brasil hoje deseja tanto que o ano esportivo acabe logo do que o aficionado do Botafogo. Por razões óbvias. Não dá para manter a resiliência depois da tenebrosa campanha do time nesta Série A. Não bastava tomar viradas históricas para Palmeiras e Grêmio. Era preciso ir além: emendar uma sequência de três jogos tomando gols nos minutos finais – Bragantino, Santos e Coritiba.
Já há quem defenda que os investigadores da Operação Penalidade Máxima – que apura os esquemas da máfia das apostas esportivas – dêem uma espiada nos jogos do Botafogo no 2º turno do Brasileiro, tamanha a estranheza de alguns resultados. Prefiro acreditar em pipocada mesmo, talvez a maior de um time na era moderna do futebol brasileiro.
O Botafogo, orgulhoso detentor de recordes em contribuição para a Seleção Brasileira, agora vai acrescentar também à galeria de feitos esse galardão às avessas. Nunca se viu um time tão amarelão, frouxo e anêmico emocionalmente como o atual.
Contra o rebaixado Coritiba, no Couto Pereira, o Botafogo fez um jogo morno, como se estivesse desestimulado em relação aos rumos do campeonato, assim como quem não quer nada. E olha que bastava uma vitória para ficar colado ao líder Palmeiras, aquele que nunca se atrapalha diante de times mais modestos.
Ainda no primeiro tempo, o Botafogo perdeu o meia Eduardo, por expulsão. O árbitro botou um do Coxa para fora também, e tudo voltou ao ponto de equilíbrio. Aos 50 minutos, pênalti para a Estrela Solitária. Pensei: nossa sorte voltou. Tiquinho bateu firme e certo. Aí, no instante seguinte, novo cochilo na marcação e o empate.
Sadismo puro com o torcedor. Até eu, passado na casca do alho quanto às esquisitices do Botafogo, estou espantado com o novo repertório de torturas que o time consegue revelar a cada nova etapa desse interminável Série A.
Vejam vocês que o Botafogo entrou na disputa como um mero coadjuvante, na esperança de fazer uma campanha capaz de evitar o rebaixamento. Sim, depois do pavoroso Campeonato Carioca com Luís Castro no comando, só restava rezar contra um vexame no Brasileiro.
O Botafogo contrariou a lógica e desandou a ganhar de todo mundo. Quando chegou ali pela 15ª rodada, quase convencido de que aquilo era real, comecei a pensar em levar a sério – sempre com um pé atrás, obviamente, como cabe a um botafoguense raiz.
Os amigos e conhecidos vinham com aqueles gestos rasgados de otimismo: ‘Fogão campeão’, ‘ninguém tira essa do Botafogo’, ‘agora é só esperar para botar a faixa’. Ouvia com o sorriso educado de quem quer acreditar, mas com o diabinho interno alertando sempre: “Cuidado, não esquece como é o Botafogo”.
Para agravar o cenário, a mídia começou a badalar nossos astros. E tome musiquinha para saudar o artilheiro Tiquinho Soares, toada cheia de breque para o menino Segovinha. Até Junior Santos ganhou música. Uma festa sem juízo, e muita gente embarcando na onda.
Veio o returno e a escalada de mudanças no comando antecipava o tombo devastador. A virada, para baixo, foi contra o Flamengo, quando mesmo em fase embalada o Botafogo se deixou derrotar dentro do “tapetinho”. Caía ali a nossa Bastilha particular. Foi o ensaio para as incríveis derrotas para Palmeiras e Grêmio. A partir daí, foi só ladeira abaixo.
O incrível disso tudo é que a ilusão vendida pelo time aos torcedores cobra agora um preço difícil de mensurar. A meninada que aprendeu a torcer pelo Botafogo, num fenômeno de renovação que há muito o clube precisava, não terá motivos para seguir com a Estrela Solitária. O peso da decepção é excessivamente pesado para os infantes.
Se por um lado o campeonato ganhou em emoção nas últimas rodadas, por obra e patacoada do Botafogo, por outro perdeu muito com a reprise de um velho filme. Palmeiras campeão é rotina chata, mais do mesmo. Até nisso o Fogão foi mal: deixou a disputa sem graça no final.
Prometo aos baluartes da coluna: é a última das lamentações pelo ano torturante que a torcida botafoguense foi obrigada a passar. Chega.
Má campanha faz Brasil despencar no ranking da Fifa
As derrotas nas Eliminatórias Sul-Americanas custaram ao Brasil a perda de duas posições no ranking da Fifa divulgado ontem. A Seleção de Fernando Diniz foi superada por Inglaterra e Bélgica, e agora é a quinta colocada, somando 1784,09 pontos. Os campeões mundiais, que derrotaram o Brasil no Maracanã, seguem na liderança.
Impulsionados pela conquista na Copa do Qatar em 2022 e pela excelente campanha nas Eliminatórias, a Argentina soma 1855,20 pontos, seguida pela França, com 1845,44. Agora o Brasil só terá outra chance de se recuperar no ranking em 2024. Além de amistosos na Europa, a Seleção disputará a Copa América, em junho e julho.
Cartola banido pela Fifa cobra transparência na CBF
Tom Jobim costumava dizer que o Brasil não é para amadores, só para profissionais. O maestro tinha razão. De repente, ressurgem das sombras umas figuras que parecem acreditar em amnésia coletiva. É o caso do ex-presidente da CBF, o paulista Marco Polo Del Nero, que foi banido do futebol por ordem da Fifa desde 2018.
O afastamento deve-se ao envolvimento dele em escândalos de corrupção na CBF, mas Del Nero causou espanto nesta semana ao assinar um artigo no qual questiona os “rumos financeiros” da confederação. Prenhe de indignação, exigiu a saída do atual presidente, Ednaldo Rodrigues.
O mais hilário é que Del Nero garante ter “enorme preocupação” com uma suposta “gestão temerária” da CBF, aproveitando para acusar Ednaldo de ter “gasto R$ 400 milhões” em meio à decadência do futebol nacional. Durma-se com um barulho desses.